Combo - Teologia Feminista
Dá pra fazer teologia com um pé de manacá?
Este é um livro de hermenêutica bíblica. É ainda uma reflexão sobre pastoral. E espiritualidade. Melhor dizer que Odja Barros quer mais do que falar sobre teologia ela quer mostrar o metabolismo da teologia fazendo-se. Este é um livro de metodologia teológica: com que materiais? com quais perguntas? com quem? e Deus fazendo-se palavra. Há pelo menos dois modos de ler este livro fruto da reflexão de doutorado de Odja: uma possibilidade é acompanhar o relato do Grupo Flor de Manacá e suas leituras da Bíblia percebendo as escolhas que vão sendo feitas, as relações entre as mulheres e a igreja que são e a igreja que querem ser.
Outra possibilidade de leitura é a de prestar atenção de que modo Odja faz a passagem entre a experiência de vida do grupo de mulheres (momento primeiro) e o texto teológico (momento segundo). Muito da questão do método na teologia da libertação e feminista esta na passagem, na transição, na recriação da primeira (vida) na segunda (teologia): como a vida se faz teologia?
Nancy Cardoso
Estamos em tempos de luta pela inclusão das/os excluídos. A teologia não pode ficar alheia a esse extraordinário processo histórico. Este livro é apenas uma tentativa de abrir-nos, homens e mulheres, para a necessária ressignificação de nossa herança cristã, para compreender o que cremos desde nossos corpos e nossas buscas. Através dessa publicação, abre-se um pequeno espaço para a voz das mulheres, para a valorização de sua história, poesia e pensamento, incluindo nela, como num coro interdependente, as vozes masculinas e as múltiplas vozes do universo.
Fazer teologia é ato político. Teologias feministas se desenvolvem de forma mais contundente quando articuladas às demandas dos movimentos feministas, dialogando com elas. Feminismo não mata ninguém. O machismo mata todo dia.
Teologias feministas tem objetivos análogos aos movimentos feministas como a emancipação da mulher e justiça de gênero. As mulheres são protagonistas da necessária "libertação da teologia" (Juan Luís Segundo) das amarras dogmáticas e colonizadoras de um clericalismo-patriarcal que as exclui da produção de conhecimento. A inclusão da justiça e igualdade de gênero no clamor por justiça social representa um avanço signi?cativo no campo da ética teológica. Submissão feminina: uma leitura bíblico-feminista é ética teológica comprometida com o Reino de Deus inaugurado por Jesus de Nazaré. O movimento de Jesus é essencialmente ético. Toda comunidade cristã é uma comunidade ética. Obviamente, toda hermenêutica dos textos bíblicos terá implicações ético-pastorais. O sexismo e o patriarcado contemporâneo tem raízes em textos como o código doméstico de Efésios 5,21-33. Karen oferece uma análise hermenêutica rigorosa para demonstrar como um texto bíblico colabora com a ordem kiriarcal.
Élio Gasda
Ivone escreve com as entranhas. Não faz concessão a conceitos frios, somente àqueles que esquentam o colo da vida, os 'colados' à vida. Que venham os conceitos: Deus, religião...o que essa rede simbólica fala-revela-esconde de nós mesmos? São divertissement do eu superficial ou suspiros do eu profundo? Você faz uma teologia de baixo. Do logos que brota da carne, mais do que o logos que se faz carne. Uma teologia da precariedade, da finitude, das rachaduras. A sua noção de religião como 'filha' das finitudes é isso. É uma religião humana. Criadora, e ao mesmo tempo, criada por esse fundo imaginário que dá sustentação ao fio de algodão doce que é a nossa vida. Você vai cavando e cavando o terreno das nossas finitudes e dali vai nascendo a sua filosofia da religião. O adjetivo 'feministas' das 'entranhas de Teresa' é uma espécie de alerta epistemológico que dispara quando o pensamento metafísico - tão naturalizado em nossos corpos - quer entrar na roda de conversas à beira do fogão de lenha da Ivone. Eu 'ouso dizer' - expressão que Ivone repetiu em vários momentos do texto - que até o sequestro que a teologia mística fez da vida de Teresa muitas vezes não foi suficiente para tirá-la da prisão da metafísica teológica patriarcal. Penso que é preciso sequestrar Teresa também de uma certa teologia mística, que a faz tão comportada aos olhos da igreja (...). Assim fui devorando antropofagicamente esse corpo de Cristo que é o corpo da Teresa no frágil corpo da Ivone.
Obrigado, amiga Ivone, por esse seu corpo eucarístico que tanto tem alimentado a nossa caminhada.
Edson Fernando de Almeida
Professor do departamento de ciência da religião da Universidade Federal de Juiz de Fora e pastor emérito da Igreja Cristã de Ipanema